sexta-feira, 15 de maio de 2009

Mãetemática

Hoje sou antimatéria
constituída ausência
despropriados campos
Sem propriedades tais
a terra, sou pura ciência
e os anos

Hoje sou antimatéria
sem essência de amanhãs
a luta, o motivo, a labuta
dragadas pelo buraco-luto
foram calculadas vãs
pela mãe que nunca erra
a mão

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Avante

Fratello,

Diante da crise financeira internacional, da gripe suina, de meia dúzia de crises existenciais e do aquecimento das calotas cerebrais, resolvi tirar férias dos ofícios literários.

Agradeço a generosidade e afeto dispensados às minhas ingênuas palavras ao longo desses dois anos de verbejos.

Estou certo de que, em um outro momento, de maior maturidade, plantaremos novos jardins.

Forte abraço,

Carlos

sábado, 14 de março de 2009

Insight

Que a arte irrompa livre.
Bombástica, cáustica ou carinhosa, traga aos imperfeitos corpos o leve sabor da perfeição transcendente, sua poesia. Que ela seja carruagem de significados amplos, novos, descontentes de habitarem eternamente eternas pradarias de idéias fractais, e traga luz às sombras da caverna. Significados desejam homens e homens nada são senão significados. Que ela derrube no mais cético dos homens sua maior ilusão: a solidão. Que ela demonstre claramente a dança dos mundos, aquele à frente e aquele detrás de seus olhos. Mas que a arte assim o seja, e só. Nada de palavras além do papel ou do barro, nada de explicações contextualizadas, espelhos do ego. Elevem-se apenas o som e o arrepio plantados pelas cordas do violino, acima, muito acima de todas as bobagens pertinentes ao homem que pergunta: é stradivarius? Não somente a corda, mas o homem torna-se instrumento. Não somente a tinta ou a cor, mas a técnica que a domou, o peito que a intuiu e a consciência que a escolheu "Azul!" para pintar a leveza do mundo.

Em seu estado puro, crianças dançam, pintam e escrevem. Pergunte se buscariam elas a grória da imortalização ou o poder estúpido e ilusório dos tesouros que abarrotam os cofres. Elas não saberão responder. Ainda não entenderam que inevitavelmente mergulham cada vez mais no lixo, mas que um dia terão sim uma escolha cotidiana: lutar para respirar novamente ou entorpecer-se para chafurdar sorrindo na lama?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Atento

Tente andar sempre atento ao significado óbvio das pequenas coisas, os detalhes do presente momento, sempre lá, indiferentes à indiferença nossa

Lança sob o mesmo mar diferentes redes, o novo olhar
e o imediato futuro pescará, de pronto
novo ensinamento

Pra ser específico, cabe o exemplo bobo de um revolucionário que apara a barba
ou os cabelos
Pela estética, o homem talhará o pêlo
que se rebela
que se levanta
se insurge?

Somos todos revoluções

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Tanta coisa que eu tinha a dizer....

...mas me perdi na poeira das esquinas novas, na alta frequência do acaso. Ih, Carlos, estamos desenvolvendo bem a arte do nosso desencontro. Mas como temos a caneta e os olhos de um irmão, quem sabe a distância, anestesiando-nos de nossas imagens um do outro, permita explorarmos melhor o tutano do peito, cuca, tempo e maturescências.

"Anda de lá da calçada
sigo de cá dessa rua
avenida movimentada da vida"

Calma que sempre haverá um sinal fechado, quando vira-latas cruzam a rua pra beber a fraternidade entre eles. Ai então o refrão, já não mais do Savoy, será assim: são dois homens sentados, dois copos de chopp, duzentos desejos presos, dois mil sonhos postados.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Esse aí são fragmentos captados do cotidiano em grupo, das relações humanas estabelecidas aqui no Lumo Coletivo. Surpresas e lições despejadas despachadas, talvez tema para aquelas discussões onde a conclusão final é o que menos importa.

Arte é se encontrar

Como prerrogativa inicial desses clarões, visto-me, entre outras, da teoria dos complexos (redes, organismos).

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A opção voluntária de se relacionar pressupõe questões, intrínsecas a sua manifestação, que nem sempre são devidamente observadas. Afinal, estar atento aos pentelhos que caem num banheiro de uso coletivo é estar, inclusive, analisando os critérios de quem, por direito (qualquer um que se estabeleça), deverá recolher os pentelhos alheios.

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Imaginem por um momento

que um objetivo fosse o centro de uma circunferência

onde pessoas (desarmadas, de preferência)

mirassem esse epicentro.

Engraçadas as conseqüências matemáticas dessa relação:

Quanto mais cabeças em roda

mais distantes umas das outras

e mais distantes cada um

um por um

do fim comum.

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Quem não se comunica, se trumbica

se não foi pelo menos sincero.

Sinceridade, aferência pessoal consigo mesmo, com o que se mira....o que se quer, afinal?

Sinceridade, sempre a paulada enigmática.

Seja qual for a real manifestação do livre, do ser liberto (libertário ou não), ainda continua sendo arte se encontrar

Não se termina o vivido

Abandona-se

domingo, 2 de novembro de 2008

Especiarias

Não manejei cuidar de mim
nem de meu jardim
das minhas três pimenteiras

Jimi secou
Rita morreu
e a que plantei no peito
essa nunca que ardeu

***

Certo dia, Carlos, estava sentado no chão da minha varanda, lugar que particularmente aprecio bastante em meu pequeno apartamento justamente pela fuga que me proporciona, fuga da cidade, de mim. Sentado regando as minhas plantas, imerso em meu "monólogo com elas". Esse texto nasceu aí, veio poema feito, pronto. Só ajustei depois uma ou duas palavras pra melhorar o ritmo e exponencializar a simplicidade dele.

Há quem diga que as plantas não falam. De fato, não precisam falar.